Após a realização do Rally Casinos do Algarve, segunda ronda do Campeonato Portugal de Rallies, a dupla Miguel Correia e Jorge Carvalho emergem como líderes do campeonato com quarenta e cinco pontos. Têm apenas mais um ponto que o Ricardo Teodósio, mas com quinze pontos de vantagem para o terceiro classificado, José Pedro Fontes, e dezassete pontos para o Craig Breen!
É a primeira vez na carreira que lidera o Campeonato Portugal de Rallies, visto que chegou à “ribalta” dos rallies em Portugal apenas em 2019, quando fez a época completa com um Ford Fiesta R5, na classe rainha das provas nacionais (os WRC e Rally1 estão proibidos de correr em provas nacionais).
Aliás, a carreira do Miguel é bastante curta ainda, tendo começado em 2017 com a participação numa prova extra campeonato, no Rali de Sernancelhe / Aguiar da Beira, tendo em 2018 realizado uma temporada completa no Campeonato Portugal de Rallies na categoria 2WD. Foi terceiro no campeonato ao volante de um Renault Clio R3 Max.
Como mencionado antes, em 2019 deu o salto para a categoria principal e discretamente foi provando o seu valor. Lembro-me que no Rally Serras de Fafe de 2019, aquando da sua estreia com um carro da categoria R5 (ou Rally2 como foi renomeada entretanto pela FIA), conseguiu pontuar com um 10º lugar, mas mais que o resultado ficou-me marcado o ritmo demonstrado e foi dos pilotos que mais me recordo nessa prova. Talvez por saber que era a sua estreia com um carro melhor e estava mais curioso por o ver? Talvez, mas se não tivesse mostrado andamento não me iria recordar certamente, como acontece com tantos outros pilotos que passam pelo campeonato. Durante o resto da época andou quase sempre dentro dos pontos, tendo terminado o campeonato em sétimo.
Na temporada seguinte trocou para um Skoda Fabia, mas como sabemos, foi um ano atípico devido à pandemia, que baralhou todos os calendários desportivos. Ainda assim conseguiu melhorar em relação a 2019 e, inclusivamente, marcou o seu primeiro pódio da carreira ao ser terceiro no Rally Terras D’Aboboreira! Curiosamente é uma prova onde sempre mostrou bom andamento. Acabou por terminar a temporada em quinto no campeonato.
Na temporada de 2021 foi quando o vimos dar verdadeiramente o salto competitivo! Na primeira ronda, o Rally Terras D’Aboboreira esteve envolvido na luta pela vitória até à última classificativa, acabando apenas no pódio numa prova que chegou a passar pela liderança. Mas ainda não foi dessa que venceu, mas permitiu-lhe ganhar bagagem para o resto do campeonato terminando com mais um pódio no Rally de Mortágua e conseguindo ficar no top-6 em todas as provas.
Com uma boa base construída em 2021, no ano seguinte tivemos finalmente o Miguel a vencer provas, estreando-se a vencer no Rally Terras D’Aboboreira. Terminou no pódio em seis das oito provas do campeonato e foi terceiro no campeonato.
Infelizmente é o único piloto nascido na década de 1990 a lutar por vitórias no campeonato. Infelizmente porque como disse o Mex Machado numa entrevista há umas semanas “isto parece um campeonato de veteranos”. Há claramente uma falha na passagem de geração nos rallies em Portugal e o Miguel é uma lufada de ar fresco nesse sentido porque é um piloto em clara trajetória ascendente de carreira e com margem de progressão.
A sua exibição no Rally Serras de Fafe foi imaculada e só não foi o melhor do campeonato português porque o Craig Breen lá estava. Ainda assim deu um calendário de dois minutos para o Ricardo Teodósio que ficou em terceiro lugar.
Agora no Rally Casinos do Algarve voltou a repetir o segundo lugar, mas com alguma polémica à mistura. Tudo porque o Miguel Correia parou para ajudar o Craig Breen, após o despiste do irlandês que pôs fim à sua participação na prova, e foi-lhe atribuído um tempo nominal pela organização onde perdeu onze segundos para o Ricardo Teodósio, o eventual vencedor da prova, quando vinha a ganhar quase seis segundos antes de parar para ajudar o irlandês. Isto atribui uma diferença de quase dezasseis segundos entre eles e no final da prova o Ricardo Teodósio e o Miguel Correia terminaram separados por dezasseis segundos e quatro décimas.
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Polémicas à parte, após duas provas o Miguel Correia é o líder e eu acredito que pode perfeitamente ser o seu ano porque beneficia da ausência por tempo indeterminado do Armindo Araújo e sabe também que o Craig Breen muito provavelmente irá falhar o Rally Vinho da Madeira, por coincidir com uma prova do WRC. Isso deixa-o em luta direta com o Ricardo Teodósio e acredito que atualmente terá mais argumentos que o algarvio, para ser campeão nacional, a começar pelo carro, o Skoda Fabia que é o melhor carro da categoria Rally2 no momento, sendo que Ricardo Teodósio ainda não parece estar 100% confortável com o Hyundai i20 Rally2!
O Campeonato Portugal de Rallies continua no Rally Terras D’Aboboreira no final do mês de Abril, prova onde o Miguel Correia tem hábito de ter bons resultados. Venha daí o resto do campeonato porque isto está bem interessante!
Vasco Moura