Os GPs do Japão e da Austrália têm, para sempre, um lugar especial no meu coração. As primeiras noitadas da minha vida foram a vê-los de madrugada, depois de mal dormir, ou nem tentar fazê-lo.
Representam os primeiros momentos de emancipação da minha vida. Os meus pais, pela primeira vez, deixavam-me ficar acordado, na sala, com controlo total da televisão e do vídeo, e nessas noites, era o rei da casa.
Quando era puto, o GP da Austrália encerrava a temporada, no mítico circuito citadino de Adelaide. Ainda hoje o prefiro a Melbourne. Era uma loucura ver os F1 naquelas ruas, a atacar as curvas de 90 graus, a acelerar nas retas arriscando tudo em travagens quase suicidas, na esperança de uma ultrapassagem quase impossível.
Ali vi Prost Campeão para mal dos meus pecados, quando em 1986 bateu os dois Williams de Piquet e Mansell, numa corrida louca que tudo decidiu. Já na altura os pneus tinham muita influência nos resultados…
Em 1991 tivemos uma corrida de apenas 16 voltas. Imaginem ficar toda a noite acordados para depois nem verem corrida, apenas carros a "nadar” nas ruas de Adelaide, sem visibilidade, e com lençóis de água em vez de asfalto.
Em 1994 vi Michael Schumacher sagrar-se Campeão do Mundo de F1 pela primeira vez. No duelo com Hill, Schumacher saiu vencedor numa manobra que devia ter sido severamente penalizada, mas que "roubou” ao Britânico o campeonato.
Em 1995, na despedida de Adelaide, vi Pedro Lamy a pontuar com um Minardi-Ford, numa corrida que acabou com apenas 8 carros classificados.
De 1996 para cá, o GP da Austrália mudou-se para Albert Park, em Melbourne. Um traçado do qual não sou particular fã. Deixou de ser o último GP do ano, para passar a ser o 1º durante muitas temporadas. Porém, mantém o encanto das madrugadas de F1
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Curiosamente, ainda hoje, quando penso neste GP vêm-me à memória as corridas de Adelaide, e nenhum momento em especial de Melbourne. Talvez a corrida de 2010, em que Alonso com andamento claramente inferior ao McLaren de Hamilton, ao Red Bull de Webber, e ao Mercedes de Rosberg, aguentou todos atrás de si por pelo menos 10 voltas, acabando assim em 4º lugar. E recordo-me porque nesse GP saiu uma das mais icónicas mensagens de rádio de Alonso. Quando Andrea Stella lhe diz a que distância estava Lewis, que se aproximava rapidamente do Ferrari, Alonso responde: “Ok! I don't want to know!". Era o 2º GP de Alonso na Ferrari, tinha ganho no Bahrain na 1ª corrida.
Melbourne não me enche as medidas, mas o entusiasmo, e a ansiedade, para ver o GP da Austrália continua igual.
Sexta, Sábado, e Domingo, irei madrugar (já não aguento directas…) para seguir o que puder do Grande Prémio de down under, e espero ver o Alonso, e a Aston Martin, em grande forma. Quem se junta à festa?
João Salviano
P.S. Hoje há Vamos Falar de FUm, pelas 21h de Portugal continental, -1h nos Açores. Apareçam e participem na conversa!
Até me arrepiei, parece que foi escrita por mim, ainda estes falei sobre o GP Austrália, as minhas primeiras noitadas...obrigado Salviano, belo texto