Mais calmos, mais serenos e mais tranquilos. Sinceramente dei por mim sem saber como começar este artigo que sinto ser de uma importância extrema dado o momento, mas que me deixa ainda um pouco sem palavras…
O ambiente que se vivia no AIA no dia de ontem era absolutamente frenético: casa praticamente cheia, muito apoio a ser sentido, um ambiente no ar de pura expectativa (e as expectativas estavam demasiado altas acreditem) e a crença de 11 milhões de portugueses atrás de um único piloto, um único piloto que no motociclismo conseguiu colocar Portugal num lugar nunca antes visto e que ontem tinha grandes e fortes probabilidades de vencer.
Mas com o português a sair do 1º lugar da 2ª fila da grelha teria assim de enfrentar, logo de inicio, 3 dos favoritos à conquista do campeonato: o campeão em título Pecco Bagnaia, Jorge Martín e a sair da pole, o “alien” e 8x campeão mundial Marc Márquez (e por esta altura também o inimigo público nº 1 em Portugal).
Clima de tensão com os pilotos a chegarem à grelha depois da volta de aquecimento, ouve-se um burburinho vindo das bancadas, que iam sustendo a respiração à medida que as luzes do semáforo estavam vermelhas e a bandeira verde era mostrada cá atrás…
Luzes apagadas e é o arranque do mundial de 2023, com Miguel a vencer no holeshot! Arranque canhão do falcão do Pragal que rapidamente se coloca na liderança e vê o AIA a ir completamente abaixo! Estamos todos a empurrar o português que continua em luta com Pecco, Martín e claro, nunca descartar o 8x campeão mundial que se apresentou aqui em Portimão renovado!
Continua a luta quando saímos da última curva e entramos na reta da meta, Pecco consegue ultrapassar Jorge Martín no cone de aspiração e Oliveira permanece assim na liderança, desta vez perseguido por Pecco que começa a pressionar o português na descida da montanha russa e antes da entrada em Craig Jones…
Curva 13 e um ataque do italiano coloca-o na liderança da corrida e claro, na descida pela 15 e entrada na reta é praticamente impossível bater as Ducati, mas o falcão não desiste e vai com tudo atrás de Pecco até à descida para a curva 1, passagem pela curva 2 com Oliveira ainda no 2º lugar e Marc, que depois de sair da pole roda no 4º lugar, tenta atacar Jorge Martín na entrada para a curva 3 mas falha a travagem, toca no Espanhol, perde o controlo e depois…
…depois destruiu as esperanças de 11 milhões de portugueses.
Uma falha nos travões que leva ao bloqueio da roda da frente do Espanhol não lhe permite travar no momento certo e com isso tenta desviar-se de Jorge Martín (que ainda leva um toque do Espanhol da Honda) e depois o toque com Miguel é inevitável, é apenas isso: inevitável e um azar.
Se pararmos para analisar com mais calma e mais friamente (ontem era simplesmente impossível, eu percebo isso acreditem…) Marc não tem intenção nenhuma em primeiro lugar de falhar a travagem: quem conhece o AIA sabe que a distância entre os limites de pista e o muro é pouca. Apesar da loucura conhecida do Espanhol, nem o próprio arriscaria tal coisa sabendo que os danos poderiam ser muito graves.
Em segundo lugar Márquez, e isto é muito importante de referir, apenas atinge Oliveira como um dano colateral! Depois do primeiro embate com Martín nada poderia fazer o Espanhol para controlar a Honda, é um mero infortúnio encontrar Miguel Oliveira pelo caminho.
Agora entramos naquela que da minha parte é a questão central que me leva a este texto: há coisa de 1 ou 2 anos (desculpa Salviano) o VFF1 fez um podcast sobre a “Futebolização da F1” e ontem (e talvez a minha narração tenha também contribuído muito para isso e daí escrever apenas agora, com cabeça fria e centenas de replays depois) tivemos o pico máximo da futebolização no desporto motorizado em Portugal.
Não se engane, também, quem acha que em Espanha, Itália, França ou outro país não fosse igual mas como eu sou português, e quero um GP em Portugal por muitos anos, apenas posso falar do que vi e do que sinto.
Ontem assistimos a uma autêntica rixa de “claques” no AIA e pela internet fora: foram desde insultos de toda uma panóplia de escolha, ameaças de agressão ou até de morte e, para mim, o pico dos picos foi claramente a quantidade de coisas atiradas ao piloto Espanhol por parte do público presente no AIA (desde latas, lixo, garrafas de água, etc…) e ainda o comportamento menos correto de vários comissários que, têm de ser os 1ª’s a serem isentos!
E agora pergunto-vos: qual é a imagem que acham que se passa lá para fora? Qual é a imagem que vocês pensam que no final do dia a Dorna e a FIM levam? Depois vamos voltar a queixar-nos porque estamos quase 10 anos sem um GP por terras lusas? É isso que queremos? Se o for meus senhores, não contem comigo para isso! Isto é desporto motorizado, não futebol!
Alguém reparou como no final do dia as coisas entre os pilotos estavam mais que resolvidas? Porque no final do dia têm consciência que mais erro, menos erro, são apenas e só situações de corrida, e que nada daquilo foi premeditado.
Agora pergunto uma coisa: onde estava esta malta no acidente do Darryn Binder em 2020? Onde estava esta malta quando o Simoncelli tirou Pedrosa vários meses da competição? Agora a melhor, e quando Rossi “viu a sua ambição a superar o seu talento” e colocou Stoner de fora?
E sim, houve criticas como irá sempre haver, mas ontem foi realmente mau e deveria realmente deixar-nos a pensar no que queremos para o desporto que tanto amamos. Deveria realmente deixar-nos a pensar se o que gostamos é do desporto ou apenas de ter um português lá, e deveria deixar-nos a refletir sobre o que não fazer, nem ser, neste desporto.
Márquez, claro, foi de imediato até à box da RNF para pedir desculpa e deu a cara e corpo às armas apontadas diretamente da bancada principal para também pedir desculpa aos portugueses presentes, foi completamente vaiado, como já tinha sido anteriormente!
Depois de se aperceber que Miguel estava no centro médico o mesmo dirigiu-se para lá e ao encontrar o português mais uma vez pediu desculpa e deu o seu lado da história, aquela que ninguém melhor que ele sabe.
Depois disso não teve problemas de enfrentar a comunicação social (mesmo podendo faltar aos compromissos pois tinha sido declarado inapto com suspeitas de fratura no 1º metacarpo da mão direita, que o retira também do GP da Argentina esta semana) e assumir mais uma vez que se tratou de uma falha nos travões, e a dar a cara para pedir desculpa mais uma vez quer a Miguel, quer aos portugueses e a dizer que iria aceitar qualquer penalização (Aleix defendeu inclusive o banimento de 1 corrida para o Espanhol), mas a verdade é que, tal como já era esperado, Márquez foi penalizado com uma dupla long-lap na Argentina, que não irá ser cumprida já que o Espanhol não vai estar presente depois da operação à lesão acima referida.
Sim, são vários os erros de Márquez ao longo da carreira devido à sua agressividade e estilo de pilotagem, mas quantos títulos já lhe valeu ser assim? Quantos momentos arrepiantes Márquez nos proporcionou, e nós fomos à loucura com o Espanhol, por ser assim? Quantos que ontem o insultavam não se tornaram mega fãs do próprio por ele ser assim?
Por isso, e no final do dia a única coisa que vos peço é que como sempre respeitem não o piloto mas o ser-humano que está dentro do fato e do capacete, que respeitem a família do mesmo e que não se deixem futebolizar por completo quando situações de corrida acontecem, isso será a machadada final neste desporto, acreditem…
Rui "Wazard” Matias
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A tendência para perdoar estas situações é que matam o meu interesse nas corridas de moto GP. Nunca concordei com a proteção ao Marquez e a perseguição ao Rossi, recuso-me a ver Moto GP com a Marquez a dominar, se voltar a acontecer deixo de ver de novo, sorry Miguel nem contigo lá consigo aguentar este Marquez. Prefiro ver corridas de automóveis e ciclismo, pois dizem-me alguma coisa pois nunca andei de mota e nem vou andar. Sem contar com os jogos de computador, que sempre joguei desde F1 até GT e Turismos mas nunca de motas. Quanto a ti Rui, mais calma nas transmissões e menos gritaria (vejo as corridas de WSBK na eurosport por causa disso), corridas não são os relatos de futebol na Eleven Sports, E Doohan lê-se [Duan] e não [doan] como costumas dizer.
Bem, chegada a hora de escaranfunchar o artigo aqui fica. Gosto, diz o que é preciso dizer, com calma e a frio.
Acho que comprar à futebolização é esticar. É um usar de uma escapatória facil para justificar uma reacção que no fundo n gostamos, mas que as vezes temos.
Quem acompanha corridas, de todos os tipos e feitios sabe como dizes que Marc Marquez é isto, mais vezes no 80, mas as vezes no 8.
Não o culpo, acho que pelo historico a penalização peca por pequena. Não por ser Marc, mas porque há miudos que vêm isto e qnd corre bem acham que vão fazer igual, acabam no centro médico Aprendi a "chamar nomes" aos intervenientes "calado" e só mais tarde falar. Nos dias que correm e com os guerreiros do teclado isso não acontece, rapidamente se transfere em 160 caracteres a frustração propria para quem não se pode defender, sobre um véu de impunidade, porque atrás do Gorila Glass, somos intocáveis. O futebol tem mtos defeitos, mas era resolvido cara a cara a bem ou a mal. Isto não é futebolização, é apenas cobardia e descarregar frustrações em quem é o alvo obvio. A unica coisa que realmente me deixa doido é que eu fui privado de os ver a competir no Domingo porque se lesionaram. Por ultimo os meus parabéns uma vez mais pela tua estreia na categoria grande, foste um activo na equipa(é a minha opinião), de um Matias(apalermado) para outro. BOM TRABALHO.
Aprendi a