O Campeonato do Mundo de Rallies é uma das categorias do desporto automóvel mais espetaculares que há! Carros muito rápidos a andarem a fundo em estradas normais utilizadas pelo cidadão comum, e algumas vezes apenas usadas pelo gado e agricultores, com centenas de milhares de fãs a segui-los atentamente em todo o espaço disponível, em ambiente de festa!
Com isto, seria lógico afirmar que seria um campeonato onde muitas marcas quereriam participar e estar envolvidas. Contudo, atualmente não poderia estar mais longe da verdade. Como se chegou a este ponto? E o que pode ser feito para inverter esta tendência negativa?
Um grande motivo pelo qual temos um campeonato cujo crescimento teima em aparecer é a plataforma WRC+. Para mim, fã incondicional do desporto, é uma plataforma muito boa porque me permite desde há muitas épocas ver todas as classificativas em direto e acompanhar a ação, e ter acesso ao arquivo da história incrível do WRC, como nunca antes foi feito. Contudo, os fãs incondicionais são apenas uma pequena percentagem das pessoas que vêem provas ao longo de uma época. O adepto casual e os novos adeptos são, ou deveriam ser, o público alvo porque é com esses que o WRC pode crescer. Mas como os podem cativar se têm de pagar quase cem euros por época para poder seguir toda a ação em direto numa plataforma que está fechada ao público comum?
Felizmente em 2023 tomaram a decisão sensata de permitir que os canais televisivos possam transmitir as provas completas, abrindo assim o serviço a um número muito maior de fãs. Enquanto criador de conteúdo relacionado com o WRC, noto um aumento de interações com os adeptos casuais e parece haver um maior interesse agora que está acessível através do pack motores da SportTV. Quem diria que tornar mais acessível um produto, ajudava a gerar um maior interesse nele? Parece algo impensável não é? Pena que entre 2017 e 2021 desperdiçaram esta maior abertura, quando corria a geração de carros mais espetaculares que o desporto já viu e, talvez hoje não estivéssemos apenas com dois construtores e meio no campeonato.
Outro dos motivos que levou a que atualmente existam apenas dois construtores e meio no WRC são os custos envolvidos.
Atualmente, os Rally1 custam cerca de um milhão de euros e quando os regulamentos atuais foram criados, esta classe foi idealizada para ser mais sustentável (daí a existência de um sistema híbrido bastante básico) e mais baratos que a última geração de carros WRC. Sucede que os custos continuam bastante altos para o retorno que o campeonato dá aos envolvidos.
E que se pode fazer para aumentar o interesse no campeonato e inverter a tendência negativa dos últimos anos?
A curto prazo a melhor solução seria transformar os Rally1 em carros ligeiramente mais evoluídos que os Rally2, isto é, fazer uma espécie de Rally2+, que é uma categoria com sucesso provado e atualmente temos cinco marcas envolvidas ativamente (Skoda, Citröen, Hyundai, Ford e já no próximo ano a Toyota), e onde outras já estiveram presentes nos últimos anos e onde os seus carros continuam a ter sucesso pelo mundo fora (como a Peugeot e VW). Isso ajudaria a descer os custos substancialmente porque um Rally2 atualmente custa cerca de trezentos mil euros, para além de ser um carro mais fácil de conduzir, o que poderia ser um atrativo para um aumento de pilotos privados no WRC, como acontecia no final dos anos noventa e no início do milénio onde havia dezenas de privados a competir e a fazer frente às equipas de fábrica.
A longo prazo, o WRC deveria pensar sobre qual tecnologia de propulsão será a melhor para o desporto e construir os seus futuros regulamentos com base nisso. Atualmente a aposta é em motores de combustão, que utilizam combustíveis sintéticos menos poluentes que os tradicionais, com o auxílio de um sistema híbrido que permite dar um aumento de potência de mais de cem cavalos. O hidrogénio, por exemplo, é uma solução na qual a Toyota tem mostrado interesse, tendo inclusive feito uma demonstração durante o Ypres Rally em 2022 com um Toyota Yaris movido a hidrogénio. Existem muitas soluções que podem vir a ser adotadas, mas para isso temos de deixar os engenheiros trabalhar e não deixar que pressões políticas possam interferir.
O formato das provas também deveria mudar! Nas provas da Croácia e Portugal, tivemos quase quatro vezes mais quilómetros em ligação do que ao cronómetro. Isto é impensável, especialmente, quando se vende a ideia de querer ser um campeonato mais sustentável. As provas têm de ter as classificativas mais condensadas geograficamente, o que beneficiaria todos os envolvidos, incluindo os adeptos que ficariam com mais possibilidade de ver os carros passar em mais sítios no mesmo dia e até o cidadão comum, que teria uma menor área do país condicionada por causa de um evento.
Outra ideia seria mudar a forma como é atribuída a forma de partida. Acredito que tornar o shakedown numa “qualifying stage”, não só aumentaria o espetáculo da prova, como permitiria aos pilotos mais rápidos escolherem o seu lugar de partida para o primeiro dia de prova. Nos restantes dias, seria pela ordem da classificação no final do dia anterior, como se fazia até há uns anos atrás. Nas provas de terra, em piso seco, isso seria uma desvantagem para o líder, mas nas restantes seria uma vantagem! Por isso, não seria apenas e só para prejudicar os líderes.
De forma a combater os “passeios de domingo”, como muitas vezes vemos no último dia de prova, os pilotos receberiam um jogo de pneus apenas e só para a Power Stage. Isso acabaria com a estratégia de poupar os pneus para a Power Stage, com os pilotos que já não se encontram em luta direta por posição. Pode não ser uma solução que elimine o problema a cem por cento, mas os rallies são uma maratona e os pilotos não têm de andar sempre a fundo. Esta solução minimizaria esta situação porque muitas vezes se viram andamentos vergonhosos. Não me esqueço de em 2018 ver o Sébastien Ogier a fazer Montim a ritmo baixo, a perder quase dois segundos por quilómetro, de forma a poupar os pneus para a Power Stage em Fafe…
De todas as ideias que sugiro acima, acredito que nem todas serão consensuais ou possíveis de aplicar no imediato, mas com certeza haverá conteúdo que possa ser aproveitado para melhorar o WRC. Termino este texto por convidar-vos a participar na discussão e a deixar as vossas ideias!
Um abraço.
Vasco Moura
Uma ideia partilhada pelo chefe da Hyunday era atribuição de pontos nas especiais. Parece-me uma ideia bastante interessante tendo em conta aquilo que aconteceu ao Ott na quinta, teve um furo e hipotecou praticamente a vitoria, logo, andou a testar o carro durante o resto do rally resguardando o carro para a PowerStage.
Vivendo num mundo digital, o Wrc deveria ter algo parecido com o que a Formula 1 fez em parceria com a Netflix, mas aqui deixo uma ressalva (não fazer uma imitação barata do mesmo), criar histórias, dramas, as pessoas compram, as pessoas adoram este tipo de coisas. Reparem bem no que fizeram com um clube da 3 ou 4 divisão inglesa, a visibilidade que eles tem por ter uma serie na disney +.
Outra situação que me parece muito interessante, ideia levantada por um amigo enquanto assistíamos à Power Stage, a volta dos Grupo A, carros normais de produção devidamente alterados para poderem fazer rallys, custos muito mais baixos.
São só alguma ideias de alguém que adora rallys.
Penso que ainda mais competitividade e incerteza, em cada etapa haver um shakedown (outro nome) para definir a ordem de partida. Não sei se atualmente as comunicações equipa carro estão cortadas nas especiais, mas se não estiverem teria de se criar bolhas de comunicação só possíveis de ativar automaticamente em caso de acidente (como nos carros comuns) atualmente.